Vicente Falconi, o mais eminente consultor brasileiro da atualidade, deixará até o fim do ano a empresa que fundou — o Instituto de Desenvolvimento Gerencial. A consultoria foi fundada por ele e José Martins Godoy, com quem dividiu por longo tempo a direção. Cabia a Godoy a administração e a Falconi a parte técnica. Aos 77 anos, Falconi sairá da operação e venderá suas ações em obediência a norma por ele criada com o intuito de abrir espaço aos novos talentos.
A trajetória do INDG foi significativa e basta citar que Jorge Paulo Lemann e Abílio Diniz colocam Falconi como um dos responsáveis pelo sucesso que ambos alcançaram.
Com Lemann, a história começou pelas mãos da secretária nacional da Economia Dorothéa Werneck, muito preocupada na época com a defasagem da indústria brasileira. Ao receber Marcel Telles, que foi solicitar autorização para aumento de preço, ela perguntou como estava a qualidade-total na Brahma e ouviu que a cerveja estava boa. A ministra explicou que não era essa a questão e sugeriu que Marcel procurasse Falconi. Por educação, Marcel procurou Falconi. Se conectaram. Estava iniciada a relação do INDG com aquele que se tornaria o mais proeminente grupo empresarial brasileiro.
A saga de Falconi está bem contada no livro de Cristiane Correa: “Vicente Falconi o que importa é o resultado”. Uma história que se mistura a saga brasileira corporativa e burocrática ao citar casos significativos de empresas e governos. Fica aqui um convite à leitura, e segue abaixo alguns flashes da obra de Vicente Falconi.
O professor Falconi, acadêmico rigoroso, era ao mesmo tempo discípulo da simplicidade.
Cartesiano, ele tinha um método simples para obter resultado:
“É entrar em uma empresa e buscar números, fatos e dados. Sem “achar” nada”.
Seguindo essa linha, absorveu dos japoneses a forma dos 5S e do americano William Edwards Deming e do romeno Joseph Moses Juran o PDCA, a base da qualidade-total que alavancou o Japão. Completava seu sistema com a introdução de metas. E com método e metas ,conseguiu extraordinários resultados.
O 5 S:
— Senso de utilização: separando o útil do inútil, separando o desnecessário
— Senso de arrumação: ordenação do ambiente de trabalho
— Senso de limpeza: manutenção do local de trabalho limpo
— Senso de saúde e segurança: ambiente favorável a execução do trabalho
— Senso de autodisciplina: garantir o uso de todos os sensos
O PDCA
–- Plan, Do, Control, Action, ou seja, planejar, executar, controlar e agir corretivamente. A ciência deste processo está na repetição e disciplina
ALGUNS PRINCÍPIOS DE FALCONI
— Sem medição não há gestão
— 3 a 5 metas para cada chefia
— Problema é a diferença entre a situação atual e a meta
— Liderar é bater metas
— Desculpas são patéticas
— Alta rotatividade é inaceitável
Esse sistema levou ao sucesso grande contingente de organizações sob o seu comando.
Curiosamente, em relação a INDG a operação não permaneceu em céu de brigadeiro. E se pegarmos os casos McKinsey e Michael Porter, identificaremos um padrão inesperado, pois todos estes campeões da consultoria tiveram dificuldade em aplicar neles próprios os remédios que receitaram e executaram com sucesso em seus clientes.
McKinsey teve problemas como CEO da Marshall Field, empresa têxtil. Michael Porter ao lado do sucesso como expert em Estratégia fechou, em 2002 a consultoria Monitor, fundada em 1983.
A fala de McKinsey é emblemática:
“Nunca antes, em toda a minha vida, soube como era muito mais difícil tomar decisões empresariais próprias do que aconselhar os outros a respeito do que fazer”
Ficamos então com as questões:
Quem ensina precisa saber fazer para si mesmo?
Falconi, McKinsey e Porter são padrão ou exceção na execução?
Carlos Magno Gibrail, Consultor e autor do livro “Arquitetura do Varejo”, é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung